Sou bancário. Fui informado que terei de deixar de fazer 35 horas semanais e terei que passar a fazer mais de 40 e até 60 horas de trabalho por semana. Irei ter que perder determinados benefícios que detenho há mais de 25 anos e o meu salário será congelado por mais de 10 anos por força de uma directiva do Banco Central Europeu apelidada de SEPA (Single European Payments Área).
A SEPA parece ser uma emanação do BCE através da sua área de pagamentos EPC (European payments Área) cujo Roadmap está disponível em http://www.europeanpaymentscouncil.org/documentation.htm
Com a desculpa da redução de custos criou-se a SEPA que já definiu o padrão das transacções de pagamentos em toda a Europa. Ao mais baixo custo possível. E que terá de estar forçosamente implementado em 2010. Baixo custo para quem? Para os bancos claro!
Actualmente como se processam esses pagamentos? Cada país está protegido pelas suas fronteiras e os pagamentos são garantidos através de normas internacionais, negociadas e implementadas de acordo com os vários sistemas informáticos, com os governos de cada país, etc..
Mas ao passarmos da actual situação para um modelo centralizado e ao menor custo possível que é que pode acontecer?
No que diz respeito a Portugal sabemos que a SIBS pratica os mais baixos custos por transacção existentes na Europa pois o nosso sistema de pagamentos (Multibanco) é internacionalmente reconhecido como dos melhores, mais seguros e inovadores que existem. Só que com a implementação das normas SEPA não terá qualquer hipótese de sobrevivência.
A este propósito convém referir que o sistema Multibanco poupa anualmente cerca de 1.450 milhões de euros ao país.
Convém aqui explicar que o baixo custo por transacção depende, na sua maior parte, da quantidade de transacções. Este factor coloca-nos a nós portugueses e à SIBS, em séria dificuldade pois não temos maneira de aumentar o número de transacções pois, em Portugal, o sistema de pagamentos atingiu um elevado nível de maturidade não podendo, por isso, crescer senão reduzidamente. Então, o baixo custo por transacção vai beneficiar apenas os grandes operadores, apenas os grandes bancos europeus, cujo volume e número de transacções não tem qualquer paralelo com a nossa pequena dimensão.
E quem está melhor posicionado para fazer este serviço a baixo custo? A VISA.
Com efeito a Visa está melhor posicionada pois:
Já funciona com normas mundiais
Está tecnicamente robustecida com novos investimentos informáticos
Dispõe do novo cartão V-Pay que já obedece às normas do SEPA
Tem já as condições para fornecer as transacções a baixo custo. Muito antes de 2010
As consequências para Portugal e para o sistema bancário português são difíceis de deduzir desde já. Mas passarão inevitavelmente por uma profunda alteração do sistema financeiro. O cenário da absorção dos bancos portugueses pelos grandes bancos europeus não está posta de parte.
Convém também aqui referir uma curiosa realidade. Os grupos financeiros como a Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI e Totta Santander passaram os seus sistemas informáticos para a IBM através de contratos de Outsourcing. Apenas o grupo Espírito Santo ainda não deu esse passo.
Não achais estranho que os bancos tenham “confiado” os seus sistemas informáticos apenas a uma única empresa? À IBM? Lembremo-nos que vivemos numa chamada sociedade de informação e que a informação é, hoje, tanto ou mais valiosa que o dinheiro. E que essa mesma informação está, afinal, toda ela financeira, toda ela bancária, toda ela afinal sobre o dinheiro, nas mãos de uma única organização: a IBM. Por sinal americana.
Não temos conhecimento que a IBM por muito respeitável enquanto empresa seja, neste momento, uma associação filantrópica internacional.
Curiosamente aquilo que tristemente se passa em Portugal relativamente ao outsourcing para a IBM é, infelizmente, comum a outras nações europeias. Mas sobre isso sabemos pouco. Sabemos que os Estados Unidos da América são concorrentes da nossa União Europeia. Mas não podemos deixar de nos preocupar aqui e agora.
Estranhamos também que ninguém nos tenha falado até hoje do SEPA. Nem jornalistas, nem governos, nada. Mas podemos bem imaginar o que é que uma directiva como a Bolkenstein e o SEPA podem conseguir. Para a Europa. Para Portugal.
Resta perguntar: E a tal Constituição Europeia? Vai ela defender-nos destas investidas contra a Europa dos Cidadãos?
9 de maio de 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Informamos os colegas que estão muito activos na zona Centro, dois BLOGS que têm denunciado com clareza os desmandos e abusos da direcção que há quase trinta anos cavalga o SBC.
visitem-nos em http://sindicalho.blogspot.com/
e em
http://sindicalhodois.blogspot.com/
Enviar um comentário