5 de novembro de 2004

Finanças dão depósitos de tesouraria ao BCP

A cada dia que passa o ministro Félix cava mais uma pázada da sepultura onde pretende enterrar a CGD, no completo desprezo pelos interesses nacionais. Abaixo transcrevo notícia hoje publicada, que julgo deve merecer alguma reflexão e mesmo resposta da parte das estruturas dos trabalhadores da CGD, e deixo algumas...

Perguntas ingénuas:
Será que a administração da CGD não tem nada a dizer sobre o assunto?
Se se pretende apenas acabar com o "monopólio" que a CGD detinha neste tipo de operações, por que não abrir esta possibilidade a toda a banca privada?
Será que o BCP vai passar a contribuir com uma fatia dos seus lucros para o Orçamento Geral do Estado?



Finanças dão depósitos de tesouraria ao BCP
Os milhões de euros de organismos públicos passam para o BCP.

DN : 03-11-2004
O ministério das Finanças concedeu ao Millennium bcp o direito de captar depósitos dos «organismos públicos» dependentes da Direcção-Geral do Tesouro (DGT). Serão centenas de milhões de euros mobilizados em depósitos e geridos via banco tutelado por Jardim Gonçalves e que, até ontem, passavam pela Caixa Geral de Depósitos, CGD. De fora do «negócio» acordado com o Estado estão os restantes bancos privados. Os serviços de Bagão Félix, o ministro da Finanças, confirmaram o «protocolo» com o BCP e afirmam que «muito brevemente» serão assinados protocolos semelhantes com a generalidade da banca privada. Mas esta intenção não acalma o mercado. Altos quadros da banca comercial, concorrentes do BCP, já criticam o «documento» assinado com o BCP. «Candeia que vai à frente ilumina duas vezes», afirma um quadro bancário. Ou seja, quem chega primeiro ao mercado «tem todas as vantagens para tomar o grosso do negócio». Também os funcionários da DGT criticam o «acordo» com o BCP. «Está-se a tentar centralizar a tesouraria do Estado para um banco privado», acusam. E quanto vale o negócio? Ao certo, os montantes são desconhecidos, «mas são centenas de milhões de euros em depósitos e uma extensa lista de dezenas de novos clientes para o BCP», afirma um quadro das Finanças. Sem competidores, o banco consegue, assim, alargar a captação de depósitos. Em suma, organismos estatais com autonomia administrativa e financeira passam a abrir contas e movimentar o dinheiro via BCP. Estão nesta listagem, instituições como tribunais, governos civis, institutos e, até, museus. Tal como sucede com a comunicação de «factos relevantes», ontem, num curto comunicado, o BCP não fazia cerimónias: sem mencionar o «protocolo» estabelecido com os serviços de Bagão Félix afirmava apenas que os «organismos públicos já podem realizar depósitos nas mais de mil sucursais do banco» e, complementava, «para crédito de uma conta central da DGT». Aliás, o título do comunicado ontem divulgado pelo Millennium bcp - «DGT vai centralizar depósitos dos organismos públicos no Millennium bcp» - foi mesmo considerado como «abusivo». A causa de tanta irritação foi a palavra «dos» em vez da preposição «de». Isto, afirmam, «já é o banco a tentar tirar todo o proveito por chegar primeiro a este mercado». As Finanças confirmam a existência de um protocolo, mas recusam a sua divulgação (ver caixa). Garantem que o mesmo documento será estendido a «curto prazo» a outros bancos, mas alguns dirigentes da administração pública não escondem fortes criticas. Acusam o Governo de «entregar a uma entidade privada» boa parte da «centralização da tesouraria do Estado» e questionam «a eventual existência» de «comissões» por serviços prestados. «Seria compreensível que um negócio destes fosse alargado a instituições como o Montepio», afirmam, justificando o «carácter mais social dessas instituições». Protocolos suscitam críticas no mercado Não é a primeira vez que a banca e o ministério das Finanças estão sob o fogo das críticas quando o negócio se contabiliza por milhões de euros. Também não é a primeira vez que o Estado esconde «protocolos» longe dos olhares curiosos. Por exemplo, o acesso da banca comercial à recepção ou cobrança de impostos - substituindo as Tesourarias de Finanças - é ainda considerado como «um assunto mal esclarecido». Existe um protocolo celebrado com a banca, mas o seu teor é desconhecido. Sabe-se que a banca cobra comissões ao Estado por receber impostos aos balcões e é mesmo acusada de não proceder a crédito imediato dos montantes cobrados nas contas do Estado. Mais recentemente, a Caixa Geral de Depósitos, CGD, perdeu o «monopólio» de «possuir» em contas os salários dos funcionários públicos.